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A FARINHA DE ANASTÁCIO

Histórias de coragem de famílias nordestinas permeiam a origem da Colônia Pulador, território que resiste ao tempo com produção artesanal da farinha de Anastácio.

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Farinha do Pulador: assim é conhecida a tradicional farinha de mandioca produzida na Colônia Pulador, no município de Anastácio, Mato Grosso do Sul. Seu surgimento é datado da década de 1920, período em que a primeira família de migrantes pernambucanos instalou-se aqui. Essa região ainda era o estado do Mato Grosso e a localidade se chamava Margem Esquerda. Somente 35 anos depois seria emancipado como município de Anastácio.

No período entre 1919 e 1921, uma grande seca assolou fortemente o sertão pernambucano, ocasionando intenso êxodo rural. Muitas famílias afetadas migraram para diversos estados, fugindo da estiagem. Muitas delas com destino ao Mato Grosso, região pouco habitada e com muita oferta de terras a baixo custo. Na chamada Margem Esquerda, atual município de Anastácio, houve no mesmo período um movimento de colonização com famílias nordestinas, vindas principalmente do Estado de Pernambuco.

Contam os historiadores que, antes mesmo de construir sua casa, Severino Batista, um dos primeiros colonos pernambucanos da região, ergueu uma casa de farinha artesanal, de onde tirou sustento para toda a família. Atualmente, os descendentes de Severino prosseguem seu legado de produção artesanal da tradicional farinha.

A intensa migração nos anos posteriores, com a diáspora nordestina, levou diversas famílias a se instalarem na região da antiga Fazenda Pulador, que passava por processo de loteamento -- fato que favoreceu as famílias migrantes com poucos recursos a comprarem suas terras de forma acessível. Isso impulsionou os grupos a se estabelecerem na região, posteriormente batizada de Colônia Pulador.

Com o pleno estabelecimento dessas famílias no território a partir da década de 1950, a colônia começa a ficar conhecida como importante região produtora de farinha de mandioca. Toda produção era escoada para municípios como Corumbá, Miranda, Campo Grande e Dourados, entre outros -- uma parte pela linha da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil (NOB), que vai de Bauru (SP) a Corumbá (MS), passando pela região --, além de ser consumida nas localidades da margem esquerda no município de Aquidauana.

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Em 2005, um grupo de farinheiros se organizou para fundar uma cooperativa e assim nasceu a Cooperativa dos Produtores Rurais da Região do Pulador de Anastácio (MS) - Copran. O principal objetivo da entidade era organizar a comercialização da produção dos filiados, desenvolver marcas, buscar certificações sanitárias e abrir novos mercados, entre outras funções.

No ano seguinte, o município de Anastácio instituiu uma festa tradicional, que viria novamente impulsionar a comercialização do produto, a famosa Festa da Farinha de Anastácio, que hoje faz parte do calendário estadual de eventos. A festa ampliou a visibilidade do produto, tornando-o conhecido e valorizado em todo o estado do Mato Grosso do Sul. E, com todo esse processo, a comunidade tradicional da Colônia Pulador também foi valorizada, conseguindo uma renda justa para sua produção artesanal de farinha de mandioca.

Com a popularidade da colônia e, principalmente, da Farinha do Pulador, produtores de farinha dos municípios vizinhos começaram a imitar a técnica de produção para tentar criar um produto similar. Essas farinhas similares são encontradas nos municípios de Aquidauana, Campo Grande e Sidrolândia.

As principais características de produção da Farinha do Pulador não são segredo. Começa pela raspagem manual da casca primária, o que favorece a retirada completa de nós e de fendas que seguram terra e mantém a raiz saudável, sem o impacto das máquinas de descascar nem trituração da raiz pelo caititu (como é também chamado o moedor de farinha).

Na segunda etapa, ela vai para a prensagem, para retirar todo o líquido da raiz. A massa enxugada é retirada da prensa, peneirada para quebrar os blocos oriundos da forte prensagem e colocada no forno a lenha para a torragem. Neste momento é quando os “mestres de farinha” adicionam seus segredos transmitidos de geração em geração, como a  técnica de torrefação, que torna única a farinha de cada família da Colônia Pulador, alimento crocante, saboroso e permeado de história.

Mais do que um produto para consumo, a Farinha do Pulador carrega consigo uma história de mais de 100 anos de lutas de um povo de coragem, que desbravou as terras sul-mato-grossenses. Aqui se estabeleceram e construíram um novo capítulo da história para seus descendentes.

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reconhecimento internacional

A tradição do modo de preparo da farinha artesanal da Colônia Pulador ultrapassou as fronteiras sul-mato-grossenses e chegou ao Slow Food, movimento ecogastronômico de origem italiana. Nosso grupo de agricultores é considerado uma Comunidade do Alimento Slow Food, a de Produtores da Farinha de Mandioca de Anastácio e nossa farinha de mandioca integra a Arca do Gosto, catálogo internacional que registra ingredientes e produtos da sociobiodiversidade em mais de 140 países. 

 

Nosso objetivo é cada vez mais dar passos importantes em direção ao reconhecimento cultural e mercadológico de nossa farinha, motivo de orgulho para todos os sul-mato-grossenses. 

Jairo Arruda de Souza 
Presidente da Copran

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